O conservador Nasry Asfura foi proclamado nesta quarta-feira presidente eleito de Honduras após semanas de atraso. A eleição presidencial ocorreu em 30 de novembro, mas só teve um vencedor declarado após um escrutínio prolongado e caótico que mergulhou o país centro-americano em um clima de incerteza institucional, informa O Globo.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com 99,9% das cédulas apuradas, Asfura, candidato do Partido Nacional e apoiado publicamente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, obteve cerca de 40,2% dos votos. O liberal Salvador Nasralla ficou em segundo lugar, com aproximadamente 39,5%, enquanto a candidata do partido governista LIBRE, Rixi Moncada, terminou em um distante terceiro lugar.
A diferença mínima entre os dois primeiros colocados, somada às falhas do sistema de apuração, levou à necessidade de uma recontagem manual de cerca de 15% das atas eleitorais — quase 3 mil documentos — em um processo conhecido como “escrutínio especial”. Esse recálculo, voto a voto, deveria ter começado em 13 de dezembro, mas sofreu sucessivos atrasos, interrupções e entraves logísticos atribuídos à dificuldade dos partidos em registrar seus representantes e a recorrentes “problemas técnicos”.
Segundo o jornal, a proclamação do vencedor ocorreu sem consenso entre os três integrantes do CNE, órgão composto por representantes das principais forças políticas do país. A decisão foi tomada com o aval de duas conselheiras — a liberal Ana Paola Hall, presidente do conselho, e a conservadora Cossette López — e de um suplente. O terceiro conselheiro, Marlon Ochoa, ligado ao partido governista LIBRE, rejeitou a decisão e não participou do anúncio oficial.
Segundo o jornal, o processo eleitoral também foi marcado por forte ingerência externa. Donald Trump declarou apoio explícito a Asfura ainda antes da votação, chamando-o de “o único amigo verdadeiro da liberdade em Honduras” e pedindo votos para o candidato conservador. Durante a apuração, Trump voltou a se manifestar, alegando fraude sem apresentar provas e advertindo que haveria um “inferno” caso os resultados preliminares fossem alterados.
Além disso, o presidente americano ameaçou cortar o apoio financeiro dos Estados Unidos a Honduras se Asfura não vencesse a eleição e concedeu perdão ao ex-presidente Juan Orlando Hernández, também do Partido Nacional, que cumpria uma pena de 45 anos nos EUA por tráfico de drogas e armas.
Na reta final do impasse, os Estados Unidos elevaram o tom da pressão diplomática. Através do Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental, Washington advertiu que haveria “consequências” caso as autoridades eleitorais não concluíssem o processo e declarassem um vencedor. O comunicado afirmou ser “profundamente preocupante” a atuação de partidos e candidatos que estariam obstruindo o trabalho do CNE e destacou que o povo hondurenho “esperou tempo demais” por um desfecho transparente e crível.
Após a confirmação do resultado, Asfura afirmou estar pronto para governar. Em publicação na rede X, agradeceu ao CNE e declarou: “Honduras, estou preparado para governar. Não vou decepcionar vocês”. A mensagem, no entanto, não dissipou as acusações de ilegitimidade nem encerrou o debate político em torno de uma das eleições mais conturbadas da história recente do país.
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