O banqueiro Daniel Vorcaro estava na sala de embarque destinada a passageiros de jatos privados, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando um policial federal se aproximou e anunciou que tinha um ordem de prisão contra ele. Eram cerca de 22h30 da segunda-feira — poucas horas depois do anúncio de que o Banco Master havia recebido uma oferta para ser comprado pelo desconhecido grupo Fictor e por também desconhecidos investidores árabes.
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Vorcaro reagiu de forma tranquila, segundo o relato feito ao Valor por uma pessoa que acompanhou a operação. Teve seu aparelho celular tomado pelo agente e foi, então, conduzido para fora do aeroporto. Trajava blazer e camisa sem gravata. Estava prestes a decolar, como sua equipe diria depois, para Dubai. Mas foi preso antes.
A ordem de prisão havia sido pedida pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal fazia já cerca de duas semanas. O pedido incluía outras prisões, bloqueio de um total de R$ 16,7 bilhões, de empresas e pessoas físicas ligadas ao empresário e ordens de buscas.
Na semana passada, a PF foi informada de que a resposta ao pedido seria expedida pela Justiça até segunda-feira à noite, segundo a mesma fonte. Essa comunicação antecipada é praxe em operações que envolvem prisões. É uma forma de colocar policiais de sobreaviso. E foi o que aconteceu.
Com a expectativa de que o aval para a detenção sairia na segunda, agentes da Polícia Federal passaram a monitorar de perto os passos de Vorcaro.
Foi acompanhando a movimentação do banqueiro que policiais souberam que ele estava se preparando para viajar. Com antecedência, uma equipe da Polícia Federal se postou em Cumbica.
Vorcaro chegou ao aeroporto para pegar o jato que, segundo sua equipe, iria aos Emirados Árabes Unidos, onde se encontraria com investidores. Foi até a sala de embarque privativa para quem voa em aviões próprios para aguardar a liberação da decolagem. Pouco tempo depois, um policial foi em sua direção e deu voz de prisão.
Entre agentes da PF, a pergunta é se Vorcaro havia sido informado de que havia um pedido de prisão contra ele e que, para evitá-la, decidiu deixar o Brasil.
O exame do celular dele — o aparelho foi retido pela polícia — pode conter elementos que confirmem a visão de que estava pondo em execução um plano de fuga; ou apontem que foi apenas uma coincidência de datas.
Enquanto a ordem de prisão já havia sido expedida, o Master e o próprio Vorcaro faziam circular a informação de que o banco havia recebido uma oferta de compra pelo Fictor, grupo com investimento nos setores de alimentos, pagamentos, setor imobiliário e energia. Em paralelo, o Banco Central se preparava para decretar a liquidação extrajudicial do Master.
“Isso foi novidade para a gente. A gente estava preparado para a deflagração ontem [segunda] e aí veio essa notícia desse grupo Fictor. Não deu para a gente estudar ainda essa empresa para saber se ele estava realmente vendendo ou se ele estava apenas colocando alguém na frente e ele continuaria por trás”, diz a fonte próxima à operação policial.
Para investigadores em Brasília, a história envolvendo a proposta feita pelo Fictor não passou de uma “cortina de fumaça”.
Horas antes da prisão, Vorcaro também participou de teleconferência com o diretor de fiscalização do BC, Ailton de Aquino Santos. A reunião on-line aconteceu das 13h30 às 14h10, segundo a agenda oficial do BC. Além do diretor, o chefe do departamento de supervisão bancária do BC, Belline Santana, e o chefe-adjunto do departamento de supervisão bancária, Paulo Sérgio Neves de Souza participaram do encontro. Não há informação se Vorcaro teria sido comunidado sobre a liquidação do banco — conforme a agenda, a audiência era para tratar de “assuntos de supervisão”.
O foco da investigação da PF são negociações com carteiras de crédito consignado cedidas pelo Master ao BRB. A polícia e o Ministério Público Federal apontam que as carteiras vendidas eram fraudulentas, o que motivou a prisão de Vorcaro e outras cinco pessoas. Em meados deste ano, o BC fez um relatório sobre a operação com esses contratos de consignado. Foi o estopim para as investigações que se seguiram e para a operação.
O banqueiro, dizem os policiais, é um velho conhecido da PF. Seu nome está no radar de integrantes da instituição desde, pelo menos, 2018 em função de suspeitas relacionadas a fundos de investimentos ofertados a regimes de previdências de prefeituras (RPPS). As operações com o consignado só entraram no radar das autoridades mais recentemente.
No trajeto entre o aeroporto e a sede da Polícia Federal em São Paulo, na Lapa, Vorcaro teria dito — segundo relato que circulou entre agentes federais e foi ouvido pelo Valor — que era vítima da pressão dos grandes bancos do país, que não querem deixá-lo crescer no mundo das finanças. O dono do Master foi detido na carceragem da PF. (Colaboraram Tiago Angelo e Gabriel Shinohara, de Brasília)
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