A África do Sul acabou se tornando o cenário inesperado do último encontro presencial, antes da assinatura final, dos três maiores protagonistas da discussão do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul: o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, seu colega francês Emmanuel Macron e a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
Os três conversaram rapidamente, no intervalo das sessões do encontro do G20, neste sábado, em Joanesburgo. Segundo interlocutores presentes à cúpula, o tema foi abordado, embora não tenha sido divulgado o teor da conversa.
O governo brasileiro tem adotado um tom de otimismo cauteloso em relação à possibilidade de assinatura final do acordo, na cúpula do Mercosul prevista para Foz do Iguaçu, no dia 20 de dezembro. O Conselho Europeu tem uma reunião na véspera. A expectativa é que tomem a decisão final em relação ao acordo e que Von der Leyen pegue um avião para o Brasil.
Caso a assinatura não ocorra em Foz do Iguaçu, uma possibilidade alternativa seria uma cerimônia em Brasília ou outra cidade do país. Nesse caso, o Brasil representaria sozinho o Mercosul, por estar atualmente na presidência rotativa do bloco.
O tratado de livre comércio prevê a eliminação ou redução gradual de tarifas em diversos produtos agrícolas e industriais. No caso de alguns produtos, como a carne, há cotas máximas de importação ou exportação.
Macron é o maior opositor ao acordo dentro da União Europeia, devido à ira dos agricultores franceses, que temem a concorrência dos produtos sul-americanos e têm um forte lobby junto ao eleitorado.
Em julho passado, durante visita oficial à França, Lula afirmou, na presença de Macron e em pleno Palácio do Eliseu, sede do Executivo francês, que o acordo seria sacramentado até dezembro, quando termina o período brasileiro na presidência rotativa do Mercosul.
Macron tem insistido desde então que considera o acordo “inaceitável” nos termos propostos. Mas a França parece impotente para conseguir uma minoria capaz de bloquear sua entrada em vigor, segundo as regras europeias – é necessária a rejeição de quatro países que, juntos, representem pelo menos 35% da população do bloco.
No início deste mês, durante visita ao Brasil para a COP30, Macron insinuou que o acordo poderia ser aceito, desde que sejam incluídas salvaguardas que atendam reivindicações francesas, em questões como o cumprimento de normas sanitárias europeias e alguma forma de proteção para os produtores locais.
As salvaguardas seriam uma saída para Macron, que enfrenta forte queda de popularidade, justificar perante a opinião pública francesa o que já está sendo chamado de traição pelos agricultores.
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