O Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro pode cumprir pena, é formado por cinco unidades prisionais e já abrigou políticos condenados em outros casos de repercussão, como mensalão e Lava-Jato. Paulo Maluf, José Dirceu e Luiz Estevão estão entre os figurões detidos no local.
Eles ficaram no Centro de Detenção Provisória (CDP) da Papuda. Há uma ala que abriga presos considerados vulneráveis — políticos, idosos e policiais — no bloco 5 dessa unidade. As celas são maiores que as de unidades comuns, têm cama do tipo beliche, chuveiro e vaso sanitário, e os detentos têm direito a quatro refeições por dia e duas horas de banho de sol.
A passagem do ex-senador Luiz Estevão pelo local foi uma das mais emblemáticas. Ele chegou a ser conhecido como o “dono da cadeia”. Uma varredura em sua cela, em 2018, derrubou a cúpula do sistema prisional da época, acusada de permitir regalias. Foram encontrados “itens proibidos”, como cafeteira e alimentos importados, e verificada a entrada de documentos e visitas fora do horário de expediente e sem verificação de segurança.
O ex-senador respondeu na Justiça pela troca de favores e regalias na Papuda e foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2023 pelo crime de corrupção.
Geddel Vieira de Lima, ex-ministro de Michel de Temer, e o petista José Dirceu estiveram na “ala dos vulneráveis” do CDP na mesma época em que Luiz Estevão e também tiveram as suas celas inspecionadas.
- Veja, abaixo, galeria com os “figurões” da Papuda
Papuda tem lista de ‘figurões’ da política
Condenado por lavagem de dinheiro, Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, foi levado para a Papuda em dezembro de 2017. Ele tinha 86 anos na época e permaneceu no presídio por cerca de três meses, quando foi transferido para prisão domiciliar. A defesa alegou, na ocasião, problemas graves de saúde: câncer na proposta em estágio avançado e uma doença degenerativa na coluna lombar. Em maio de 2023, teve as penas extintas pelo STF. O ministro Edson Fachin, atual presidente da Corte, entendeu que Maluf se encaixava nos critérios do indulto de Natal assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no fim de 2022. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Ex-ministro do primeiro governo de Lula, José Dirceu (PT) esteve na Papuda em três ocasiões. A primeira em 2013, em uma temporada de onze meses, após ser condenado por corrupção ativa no processo do Mensalão. As outraas duas foram em função da Lava-Jato. Ele voltou à Papuda em 2015 por determinação do então juiz Sérgio Moro. Foi solto em maio de 2017 após decisão da Segunda Turma do STF, que determinou o uso de tornozeleira eletrônica, mas retornou um ano depois, quando permeneceu por cerca de um mês. A Segunda Turma do STF anulou a condenação de Dirceu na Lava-Jato em maio de 2024. Foto: Regis Filho/Valor
Ex-deputado federal e ex-presidente do PT, José Genoino esteve na Papuda em 2013, após ser condenado por corrupção no processo do Mensalão. Em agosto de 2014, progrediu para o regime semi-aberto, e no ano seguinte teve a pena extinta pelo STF. A decisão teve como base um decreto de indulto de Natal editado pela então presidente Dilma Rousseff (PT) no fim de 2014. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Ex-deputado e ex-ministro em gestões de Lula (PT) e Michel Temer (MDB), Geddel Vieira de Lima foi preso em 2017 por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele foi detido depois de a Polícia Federal ter apreendido R$ 51 milhões em dinheiro, distribuídos em malas, em um apartamento em Salvador. Em 2018, Geddel chegou a ser levado para uma cela isolada da penitenciária por ter desrespeitado um agente penitenciário durante revista. Em 2019, foi transferido para um presídio na capital baiana, e no ano seguinte obteve decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para cumprir prisão domiciliar. Em 2022, uma decisão do ministro Edson Fachin, atual presidente da Corte, o colocou em liberdade. Foto: Ruy Baron/Valor
Presidente da Câmara dos Deputados entre 2003 e 2005, João Paulo Cunha cumpriu pena na Papuda após ser condenada por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do Mensalão. Ele ficou detido por um ano e dividiu cela com José Dirceu. Cunha foi o deputado mais votado do PT nas eleições de 2006 e 2010. Em 2014, condenado e preso, renunciou ao mandato. Depois de cumprir a pena concluiu o curso de direito e atua, atualmente, como advogado. Em julho, o presidente Lula pediu ao ex-deputado para concorrer nas eleições de 2026. Foto: Divulgação
O ex-senador Luiz Estevão foi preso em março de 2016 após ser condenado a 26 anos de prisão pelos crimes de corrupção ativa, estelionato e peculato. A condenação se deu por envolvimento em fraudes nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. A passagem do ex-senador pela Papuda foi uma das mais emblemáticas. Ele chegou a ser conhecido como o “dono da cadeia”. Foi condenado por custear uma reforma no local e também por corrupção, por troca de favores e regalias. Uma varredura em sua cela, em 2018, derrubou a cúpula do sistema prisional da época. Foram encontrados “itens proibidos”, como cafeteira e alimentos importados, documentos e verificada a entrada de visitas fora do horário de expediente e sem verificação de segurança. Foto: Valor
Ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres esteve na “Papudinha” em 2023. Ele foi levado ao 19º Batalhão da Polícia Militar do DF após ser preso quando retornou de viagem dos Estados Unidos após os atos de 8 de janeirro. Torres ficou preso preventivamente por quatro meses. Assim como o ex-presidente, Torres é réu no chamado “núcleo crucial” da trama golpista e também foi condenado. A pena imposta a ele pela Primeira Turma do STF é de 24 anos de prisão. É possível que o ex-ministro volte a ser detido no mesmo local. Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Governador do Distrito Federal entre os anos de 2007 e 2010, José Roberto Arruda ficou preso na Papuda em duas ocasiões. A primeira em 2010, no escândalo conhecido como Caixa de Pandora, que envolveu a compra do apoio de deputados da Câmara Legislativa do DF, e a segunda em 2017, em razão da Operação Penatenaico, que investigou desvios na reforma do estádio Mané Garrincha. Agnelo Queiroz, governador do DF entre 2011 e 2014, também foi preso nessa segunda operação policial. Ele ficou detido entre os dias 23 e 31 de maio de 2027. Foto: Reprodução/TV Globo
Complexo Penitenciário pode, agora, abrigar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão
Na semana passada, a chefe de gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez vistorias no CDP e também na “Papudinha“, como é conhecido o 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, que também fica no complexo penitenciário. O local tem sido apontado como o mais provável para receber Bolsonaro.
Fotos divulgadas pelo portal Metrópoles mostram que a “Papudinha” tem celas maiores, camas do tipo beliche, ventilador e televisão. O ex-ministro Anderson Torres, também condenado na ação da trama golpista, já ficou detido no local.
O destino de Bolsonaro, no entanto, ainda é incerto. O Valor mostrou em reportagens recentes que nem a Polícia Federal (PF) nem o governo do Distrito Federal querem o ex-presidente em suas instalações.
Na última quarta-feira (13), o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou não poder garantir que a Papuda tenha condições de recebê-lo. “Não conhecemos as condições de saúde dele”, disse.
O governo do DF enviou, na semana passada, um ofício ao ministro Alexandre de Moraes solicitando que o ex-presidente passe por uma avaliação médica para verificar se ele tem condições de cumprir pena na Papuda. Moraes, no entanto, indicou “ausência de pertinência” e só deve analisar o pedido após o fim da ação da trama golpista.
Recursos e chance de prisão domiciliar
A Primeira Turma do STF encerra nesta sexta (14) o julgamento do recurso de Bolsonaro. Já há unanimidade para rejeitar as argumentações da defesa e manter a pena do ex-presidente em 27 anos e três meses de prisão.
A avaliação dos ministros, no entanto, é a de que Bolsonaro só deve começar a cumprir a pena após ser decretado o trânsito em julgado da ação (quando não cabem mais recursos). É possível que a defesa de Bolsonaro ainda apresente os chamados “embargos infringentes”, que, se confirmar, também devem ser rejeitados. O STF tem o entendimento de que só cabem infringentes quando pelos menos dois ministros da turma — que é composta por cinco magistrados — votam pela absolvição. No caso de Bolsonaro, apenas Luiz Fux votou para absolvê-lo.
Ministros não descartam, além disso, que Bolsonaro cumpra a pena em regime domiciliar. Em regra, pessoas condenadas a mais de oito anos são presas em regime inicial fechado em uma penitenciária. No entanto, após o Judiciário decretar o início do cumprimento da pena, é comum que as defesas entrem com pedidos de benefícios, entre eles o de prisão domiciliar. Como Bolsonaro tem 70 anos e problemas de saúde, seria possível, explicam, que o ex-presidente fique preso em casa.
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