Em meio à pressão crescente por redução de impactos ambientais e maior transparência nos processos produtivos, a indústria têxtil brasileira tem buscado alternativas para tornar o jeans — uma das peças mais populares e também mais intensivas em recursos naturais — mais sustentável. Parte desse movimento envolve investimentos em tecnologia, revisão da cadeia produtiva e adoção de práticas voltadas à redução do consumo de água, energia e produtos químicos.
Embora a matéria-prima (escopo 3) seja o maior desafio da indústria têxtil — ao lado do pós-uso — as empresas começam a avançar também em seus processos produtivos, que englobam emissões dos escopos 1 e 2.
Nesse contexto, a Damyller tem direcionado sua estratégia para a inovação aplicada ao jeanswear, com produção 100% nacional e foco em práticas consideradas mais responsáveis do ponto de vista ambiental. Segundo a empresa, ao longo de sua trajetória, foram feitos investimentos em tecnologias que permitiram reduzir significativamente o uso de água, energia e recursos naturais, além do aprimoramento de processos de reutilização de materiais e de tratamento de resíduos industriais.
“Somos expert em jeans e nosso foco, além de apresentar coleções completas para nossos clientes, é reinventar a cadeia produtiva, com modelos de peças atualizados, seguindo os principais movimentos internacionais da moda”, afirma Cide. “Usamos as melhores matérias-primas, aplicadas ao que há de mais moderno em tecnologia, para criar coleções completas e entregar o melhor produto para os nossos consumidores.”
Entre as iniciativas adotadas estão o uso de tecnologias de lavanderia que dispensam a utilização de água, softwares de corte que aumentam o aproveitamento do tecido e reduzem desperdícios, além da reciclagem de retalhos, transformados em novos tecidos, fios e outros produtos.
O executivo conta que a empresa utiliza, na produção, uma máquina (G2 ATMOS), trazida em parceria com a empresa espanhola Jeanologia, referência em tecnologia eficiente na indústria têxtil no mundo, que beneficia o jeans usando o ar da atmosfera. A marca também afirma utilizar equipamentos certificados que operam sem emissão de tóxicos na atmosfera, bem como matérias-primas provenientes de fontes renováveis e sistemas de tratamento adequado de efluentes.
A incorporação de tecnologias como laser, ozônio e equipamentos que utilizam o ar da atmosfera no beneficiamento do jeans tem permitido, de acordo com a empresa, que cerca de 80% da produção seja realizada com uso do ar em substituição à água. Esse processo também teria resultado em uma redução de 85% no uso de produtos químicos em comparação aos métodos convencionais.
Em 2018, a Damyller lançou a linha Ecodamyller, apresentada como a primeira coleção do país com descarte zero de água na lavanderia, utilizando apenas 200 mililitros por peça, volume que evapora durante o processo.
Além dos processos industriais, a empresa afirma realizar uma seleção criteriosa de fornecedores de tecidos com certificações e participar de ações sociais voltadas às comunidades onde atua, como doações de materiais e apoio a projetos assistenciais. A estratégia faz parte de um esforço mais amplo de revisão da cadeia produtiva, em linha com tendências internacionais da moda e com a crescente demanda por produtos com menor impacto ambiental, de acordo com a companhia.
Na Riachuelo, parte desse movimento é facilitado pela estrutura verticalizada: entre 40% e 50% das roupas são produzidas na fábrica própria, o Grupo Guararapes, no Rio Grande do Norte. “Temos capacidade de atuar muito mais rápido na fábrica”, diz Taciana Abreu, diretora de Sustentabilidade do grupo. Modelagem e lavagem são planejadas por softwares que otimizam o corte e reduzem desperdícios.
Um dos focos é ampliar a recircularidade da água. Atualmente, 20% da água usada na lavanderia e demais etapas da produção de jeans já é reutilizada. Outro projeto em curso é substituir o combustível da caldeira — hoje gás — por biomassa. A estimativa é reduzir em até 16% as emissões próprias com a troca do combustível.
A empresa testa soluções de biomassa disponíveis na região, como a algaroba — espécie adaptada à Caatinga — e resíduos da castanha de caju. A proposta é estruturar uma cadeia que combine sustentabilidade ambiental, combate à desertificação e geração de renda para pequenos produtores. “Queremos mostrar que a transição da energia térmica do estado está ligada ao desenvolvimento sustentável do RN”, afirma a executiva.
Segundo Taciana, a transição pode unir descarbonização, combate ao desmatamento e geração de renda local. A empresa já iniciou diálogo com a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Norte e pretende envolver também as pastas de Agricultura e Meio Ambiente, propondo que a biomassa seja tratada como vetor de desenvolvimento sustentável no estado, com verificações ambientais, combate ao desmatamento e possibilidade de créditos de carbono. Hoje, a Riachuelo já opera com energia elétrica renovável e reduziu mais de 30% das emissões de escopo 2 após migrar para esse modelo.
A Insider, marca de roupas femininas e masculinas com matérias-primas tecnológicas (que minimiza o suor e o odor das atividades diárias), tem estruturado sua atuação em sustentabilidade a partir de ajustes nos processos industriais e na escolha de matérias-primas, com produção 100% nacional e parcerias com fornecedores certificados e rastreáveis. Segundo a empresa, os processos produtivos são otimizados de ponta a ponta para reduzir desperdícios, com foco em eficiência no uso de recursos e maior controle sobre a cadeia de fornecimento.
Nos processos fabris, a marca afirma utilizar materiais biodegradáveis e de origem natural em mais de 80% das peças, além de ter reduzido de forma significativa o consumo de água. A estratégia inclui a aplicação de princípios de economia circular, com tratamento e reutilização de recursos ao longo da produção. A empresa também declara neutralizar as emissões de carbono associadas aos seus processos industriais, tratando a sustentabilidade como uma agenda contínua, com metas de curto, médio e longo prazo.
Do ponto de vista dos insumos, a Insider aposta em tecidos tecnológicos de menor impacto ambiental, como viscose, modal e liocel — fibras de origem vegetal certificada, biodegradáveis e renováveis — além de poliamida, descrita como mais durável e com menor liberação de microplásticos. Segundo a companhia, a adoção do modal resultou na economia de mais de 280 mil toneladas de água na produção das fibras, volume suficiente para abastecer por um ano um município de até 7.071 habitantes, além da redução de 1.263 toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO₂).
A escolha pela poliamida de biomassa, feita a partir do milho geneticamente modificado, foi feita para atender à demanda industrial. Seu tingimento, diz a empresa, é mais sustentável ao gastar menos energia durante o processo. O tecido tem uma degradação de 10 a 40 vezes mais rápida que a poliamida convencional em condições naturais. A Insider também coelta e reutiliza os resíduos gerados durante a produção do fio para fabricação de novos fios – poliamida reciclada. A empresa também trabalha com poliéster 100% reciclado a partir de garrafas pós-consumo.
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